51 anos depois, comemorar Abril é celebrar a Revolução dos Cravos, é comemorar a mudança de regime, é registar a grande metamorfose do país e afirmar o Portugal moderno, democrático e europeu.
Há 51 anos, vivíamos num regime opressor, sem liberdade, sem liberdade de expressão, com presos políticos, com tortura, censura, isolamento internacional e em guerra – a guerra colonial (que de resto foi o âmago da contestação e precursora da revolução). Portugal era um país pobre, muito pobre, com elevada taxa de mortalidade infantil, analfabeto, em que as mulheres não tinham direitos e os homens emigravam a salto à procura de sustento em França ou em outro país.
Hoje, afortunadamente, a sociedade portuguesa é inexoravelmente diferente e assumiu os valores, as conquistas e os pressupostos que a metamorfose revolucionária defendeu: uma sociedade moderna, cosmopolita, universalista e democrática – seria impensável vivermos num regime diferente. E se todos os dias ouvimos pessoas lamentarem-se porque houve metas que não foram alcançadas; ou ouvimos tantas vezes os desiludidos de abril; e ouvimos muitos vociferarem que “o 25 de Abril não foi feito para isto”… Mas foi. Foi feito para podermos ter opinião diversa e plural (até para criticarmos a Revolução ou o que ela significou ou o que dela resultou), para podermos falar sem receios, para defender a nossa opinião sem medo, para criticarmos e levantarmos a voz contra as injustiças, para clamar contra a soberba dos poderes…
Recordar o 25 de Abril é homenagear todos os que fizeram a Revolução e é também recordar todos os que deram a vida pela liberdade, os que lutaram pela mudança e os que construíram a Democracia (é não deixar esquecer que, como nos ensinou Manuel Alegre, «Mesmo na noite mais triste/em tempo de servidão/há sempre alguém que resiste/há sempre alguém que diz não»). Comemorar Abril é recordar os militares que nessa madrugada se sublevaram e derrubaram um regime caduco e podre, mas é também prestar homenagem a todos os protagonistas que contruíram um Portugal diferente nestes 51 anos. E nunca é de mais repetir nomes como Salgueiro Maia ou Otelo, as Forças Armadas ou Spínola. Mas também Ramalho Eanes, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral e Amaro da Costa, Sá Carneiro, Lurdes Pintassilgo e tantos outros (os “nossos” e os “outros”) que em algum momento da história contemporânea portuguesa tiveram a responsabilidade de contribuir para as pequenas e grandes mudanças que o país viveu nestes 51 anos. E os heróis anónimos, os muitos portugueses que em Abril saíram à rua, que aplaudiram os militares e apoiaram a mudança. E acima de todos, o que viria a ser a maior figura destes temos de mudança: Mário Soares, que, muito para além das apreciações pessoais, foi a figura maior da concretização da utopia do 25 de Abril – a Democracia, a liberdade, a integração de Portugal na Comunidade Europeia, o Portugal moderno… Parabéns!