Editorial de Luís Baptista-Martins: Deserto de notícias - Rádio Altitude

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De acordo com o estudo “Deserto de Notícias”, revelado há dias, há 61 concelhos sem jornais ou rádios em Portugal. O assunto pode não fazer perder um minuto há generalidade das pessoas, mas é da maior relevância, especialmente quando tentamos perceber o país que somos ou comentamos a sociedade em que nos transformámos: um país sem representação, uma sociedade sem vida cívica, desigual, centralista, macrocéfala e assimétrica.
O “Deserto de Notícias” é um estudo desenvolvido por Giovanni Ramos, investigador associado do LabCom da UBI, que retrata o que é um país deserto de informação. Segundo o autor, «são regiões que não possuem noticiário local, são comunidades que se a população quer saber o que acontece» tem de procurar «meios informais porque não há um jornalismo» que o faça. E isso faz toda a diferença: são territórios que, muito para além do atraso económico, sofrem de um enorme atraso cultural e social. São concelhos onde não há informação, ainda que possa haver conhecimento informal, notícias através de redes sociais, mas o conhecimento do que se passa à volta é orientado, propagandístico, controlado, panfletário, distorcido, opinativo e unívoco.
Segundo o investigador, este “deserto de notícias” ocorre em regiões mais distantes dos grandes centros, com menor atividade económica e social, nomeadamente no Alentejo e Trás-os-Montes, todo um território fértil em desinformação e onde não há pluralidade, por falta de órgãos de comunicação social local. Esse Portugal sem jornais e sem rádios é 20 por cento do país – são os concelhos mais atrasados e pobres – tem que haver políticas públicas de apoio à comunicação social.
Por cada jornal ou rádio que encerra é mais uma alma que morre no Portugal profundo, é mais um tiro na democracia, é mais uma facada na liberdade, é mais uma mordaça na pluralidade de opinião, no debate, no escrutínio público e sobre a vida cívica de uma comunidade.
Às muitas dificuldades que a imprensa local vivia, a atual crise (entre a pandemia e a guerra na Ucrânia) acrescentou um conjunto de novas dificuldades, nomeadamente com o aumento generalizado de custos e a falta de papel (muito mais caro e raro).
Assim, o deserto de notícias tem tendência para se agravar. O escrutínio dos poderes será cada vez menor e mais difícil. A vida cívica será cada menos intensa e a sociedade menos informada. Um problema próprio das sociedades mais atrasadas e que Portugal não consegue mudar. Como comentava David Pontes, no “Público”, «há um país que vai deixando de ter expressão», um país que durante semanas ouve nas televisões o debate sobre a ciclovia de uma rua de Lisboa… porque o país é Lisboa e o resto é paisagem! (é inacreditável que as pessoas discutam notícias de longe e nem se deem conta do que se passa no sítio onde vivem!).
Pois… se queremos que o país seja mais do que paisagem, é preciso promover a coesão territorial, desenvolver as regiões (com a regionalização), contribuir para o desenvolvimento cultural e social das comunidades locais, mudar o paradigma e participar na vida pública, na civitas. Sem imprensa regional, seremos cada vez mais dependentes, submissos e subjugados – participe na vida coletiva, colabore com os jornais locais, compre e ofereça assinaturas, ajude, partilhe,…, porque sem jornais, fica um deserto de notícias e ler jornais é saber mais! E só com a colaboração de todos, dos leitores dos jornais locais e os ouvintes das rádios locais, das empresas e anunciantes, do poder local e da administração pública, poderemos ter comunidades mais esclarecidas, mais fortes e desenvolvidas. Não há coesão territorial, nem desenvolvimento regional, sem mais imprensa regional, e sem jornalismo local. Quando as novas tecnologias atrofiam os meios tradicionais, entre a crise da imprensa e a desertificação, com a “dependência” das redes sociais, vemos como necessitamos ainda mais da imprensa regional e das rádios locais, porque um país deserto de notícias, será um país mais pobre e atrasado.

Luís Baptista-Martins

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