Esta pode ser a semana decisiva para o futuro do conselho de administração da Unidade Local de Saúde da Guarda. O Partido Socialista vai tentar jogar a última cartada contra a continuidade da equipa presidida por Carlos Rodrigues, mesmo que já só falte menos de um ano para o fim do mandato, isto é, para a altura em que o Governo poderá normalmente fazer a substituição sem precisar de argumentos de natureza política nem pagar indemnizações.
A oportunidade que os dirigentes locais do PS vão tentar agarrar para conseguir a antecipação da mudança é o facto de o ministério estar a preparar novas leis orgânicas para o Serviço Nacional de Saúde para substituírem as que vigoram desde 2011.
Para a próxima quarta-feira está marcada uma reunião entre o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, com o presidente da federação distrital do PS, António Saraiva, os deputados Santinho Pacheco e Maria Antónia Almeida Santos e eventualmente outros dirigentes socialistas.
É com esta delegação que o PS tentará expor os motivos para a substituição imediata de Carlos Rodrigues e apresentar o elenco possível para um novo conselho de administração.
Nos últimos dias os dirigentes locais têm-se desdobrado em contactos, tentando avaliar disponibilidades e medir opiniões.
Isto porque o ministro já terá deixado bem claro que não fará mudanças apenas por uma tradição de alteração do ciclo governativo, nem aceitará nomear um conselho de administração que não seja presidido e composto por pessoas reconhecidas do ponto de vista técnico e da competência. Para Adalberto Campos Fernandes, o perfil político é o critério menos importante.
A solução preferida pelo PS local passa pelo regresso de Fernando Girão. Nomeado presidente da então sub-região de Saúde nos governos de António Guterres, voltaria quatro anos depois, com José Sócrates, para assumir a direcção do Hospital Sousa Martins. E quando foi criada a Unidade Local de Saúde, em 2008, subiu naturalmente à presidência do conselho de administração.
Considerado, por isso, «o pai» da actual estrutura de Saúde no distrito, ao próprio não desagradaria voltar ao lugar que deixou em Dezembro de 2011. E o risco de parecer ‘déjà-vu’ é aliviado pelo facto de encontrar paralelo no que aconteceu, por exemplo, na Covilhã – onde João Casteleiro também regressou à direcção do Centro Hospitalar da Cova da Beira.
Mas há outros nomes que reúnem amplo consenso no plano técnico. Desde logo o de Isabel Coelho, também antiga presidente da sub-região de Saúde e fundadora e coordenadora da única Unidade de Saúde Familiar existente no distrito.
Afastada parece estar a hipótese de indicar para os lugares cimeiros da administração nomes que nada tenham a ver com a medicina ou com a gestão em saúde e que apenas cumprissem o critério partidário. Já se percebeu que esse cenário não colhe simpatias no Ministério da Saúde.
Por isso, várias têm sido as possibilidades abordadas ou sugeridas nos últimos tempos: do médico otorrino Raul Amaral ao agora director do Departamento de Saúde da Mulher e da Criança do Hospital da Guarda, António Mendes.
A estratégia passa pela apresentação de nomes inquestionáveis para a presidência, para as direcções clínicas (hospitalar e de cuidados primários) e para a direcção de enfermagem. Uma vez aceites, o PS tentará depois colocar nos lugares de administradores e vogais elementos conotados com as várias tendências do partido ou indicados por sectores influentes do partido. Entre as hipóteses estão os antigos vereadores Vítor Santos e Lurdes Saavedra ou os dirigentes socialistas António Carlos Santos e António Monteirinho.
Mas além de a mudança da Lei Orgânica do Ministério da Saúde ser vista como a grande oportunidade para uma substituição rápida e sem custos financeiros, o que o PS da Guarda pretende é, fazendo as nomeações o quanto antes, evitar os custos políticos – tanto internos como externos.
Internos porque, quaisquer que sejam os nomes, dificilmente deverão passar sem a polémica do costume, num partido dividido.
E com o PS à beira de escolher o candidato à Câmara da Guarda, o ideal para os dirigentes é conseguir arrumar o quanto antes o processo da Unidade Local de Saúde, para congregar esforços na preparação das eleições autárquicas e tendo já, no Hospital, um centro de afirmação de poder a partir do qual consigam quebrar a hegemonia e o protagonismo do actual presidente da Câmara, Álvaro Amaro.
Por outro lado, aproxima-se a comemoração dos 110 anos da inauguração do Sanatório Sousa Martins, a 18 de Maio. E se, em 2007, com o PS no Governo e na Câmara, o centenário foi uma das maiores celebrações comunitárias que Guarda tinha visto em muitos anos, para 2017 os dirigentes socialistas receiam que, dada a proximidade entre Carlos Rodrigues e Álvaro Amaro, a ULS e a autarquia promovam um conjunto de festejos já em ambiente de pré-campanha para as autárquicas, eventualmente até com a presença do ministro da Saúde.
Uma das preocupações que a nova federação socialista tem feito chegar aos dirigentes do Partido em Lisboa prende-se, precisamente, com a aparente deferência dos membros do Governo para com Álvaro Amaro, conforme admitiu à Rádio um dirigente do PS.
As estruturas locais do partido não gostaram de ver, por exemplo, o primeiro-ministro António Costa na inauguração da Feira Ibérica de Turismo, nem o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, no Dia da Cidade. E muito menos aceitaram o protagonismo dado ao presidente da Câmara pelo Ministro das Infraestruturas, Pedro Marques, no recente lançamento do concurso para a empreitada de requalificação da Linha da Beira Baixa.
É nesta gestão do calendário político local que António Saraiva, Santinho Pacheco e Maria Antónia de Almeida Santos, pelo menos, vão procurar conseguir o apoio do ministro da Saúde.
Ao mesmo tempo, na reunião de quarta-feira, tentarão obter de Adalberto Campos Fernandes a resposta possível para a mais delicada das questões em ano eleitoral: até onde poderá o Partido Socialista empenhar-se com promessas quanto às obras da segunda fase do Hospital da Guarda, interrompidas em 2012?
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