A Cimeira Ibérica de 2019 poderá realizar-se na Guarda, devendo os chefes de governo de Portugal e Espanha, António Costa e Pedro Sánchez, fazer o anúncio da cidade escolhida já no próximo dia 21 em Valladolid, no encontro bilateral deste ano.
Do lado português poderá já existir consenso, tendo o presidente da Câmara, Álvaro Amaro, formalizado a candidatura em carta oficial enviada esta semana ao primeiro-ministro. Uma missiva revelada na sessão de ontem do executivo municipal e na qual o autarca sustenta que «para além de incutir a estas cimeiras o cunho da cooperação transfronteiriça e Ibérica, levar-se-ia esta cimeira ao centro mais alto do interior de Portugal que muito beneficiaria e se honraria com a receção de tal evento», assegurando que a Guarda estará «à altura para preparar e receber este evento».
Resta acertar a data em que as comitivas de António Costa e Pedro Sánchez terão o eventual encontro na Guarda. As cimeiras ibéricas realizam-se por norma em Maio ou em Novembro, alternadamente em Portugal e em Espanha. E embora a próxima decorra na semana que vem em Valladolid, os dois países não deverão aguardar um ano. Isto porque em Novembro de 2019 já terá havido eleições legislativas em Portugal para a escolha de novo Governo e não é diplomaticamente correcto agendar um encontro de Estado que vincule um próximo primeiro-ministro, ainda que possa continuar a ser o mesmo.
Por isso a Cimeira Ibérica de 2019 deverá ocorrer no início de Maio, antes também da campanha eleitoral para as Eleições Europeias, que deverão ser marcadas para dia 26 daquele mês.
A confirmar-se que a Guarda será o palco, o encontro poderá até acontecer em paralelo com a realização da Feira Ibérica de Turismo, podendo assim contar com a visita do chefe do Governo de Espanha a um evento que já foi inaugurado pelo primeiro-ministro e pelo Presidente da República de Portugal.
Concretizando-se, poderia também marcar a eventual despedida de Álvaro Amaro como presidente da Câmara da Guarda, se se confirmar o cenário de o líder dos Autarcas Social Democratas integrar um dos primeiros lugares da lista do PSD ao Parlamento Europeu. Nessa situação (sobre a qual se tem especulado nos meios políticos locais), seria um final simbólico para um ciclo do percurso público de Amaro: encerrá-lo-ia com a organização na Guarda da Cimeira Ibérica em 2019, depois de tê-lo iniciado com as comemorações nacionais do Dia de Portugal em 2014. Em ambos os casos a reedição de eventos em que a Guarda fora pioneira: em 1997 como cidade anfitriã das primeiras comemorações oficiais do 10 de Junho fora de Lisboa e em 1976 ao ter recebido a primeira cimeira ibérica da era democrática.
A realização do encontro entre os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e Espanha, Melo Antunes e José Maria Areílza, colocou a Guarda, a 12 de Fevereiro 1976, no centro da História. A destruição da embaixada espanhola em Lisboa, durante o período revolucionário (em 1975), tinha gerado tensão entre os dois países vizinhos. As relações diplomáticas só foram reatadas nesta cimeira.
Os dois ministros assinaram então um acordo sobre a delimitação da plataforma continental, um convénio para a gestão do espaço marítimo e um protocolo que visava o aproveitamento do troço internacional do Rio Minho. Foi também na Guarda que se iniciaram negociações para a construção de uma ponte internacional sobre o Rio Guadiana, entre Vila Real de Santo António e Ayamonte, e se instituiu uma maior colaboração técnica e administrativa em matéria aduaneira, com o objetivo de facilitar o tráfego internacional entre os dois países.
Esta cimeira ficou para a história diplomática como “O Espírito da Guarda”.
A Cimeira Ibérica anual entre chefes de governo realizou-se pela primeira vez em 1983, em Lisboa, entre Mário Soares e Felipe González. Desde então já teve como anfitriãs, em Portugal, as cidades de Guimarães, Funchal, Porto, Ponta Delgada, Albufeira, Figueira da Foz, Évora, Braga e Vila Real, e ainda a vila de Sintra, a Quinta do Lago e Vidago.
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