Consultando as notícias de há uma década, verifica-se que as obras de requalificação da Praça Velha (nome pelo qual ainda é conhecida a Praça Luís de Camões, no centro histórico da Guarda) ficaram marcadas por dois contextos: enormes discussões sobre alternativas ao estacionamento, antes de iniciadas as obras; e, depois, o longo atraso na conclusão dos trabalhos, que se arrastariam por mais de três anos.
A praça principal da cidade, fronteira à Sé, é assim o resultado de uma intervenção que partiu da percepção geral de que era necessário fazer alguma coisa naquele espaço mas na qual, agora, quase ninguém se revê.
Este sentimento não supreende o autor do projecto, o arquitecto Camilo Cortesão, que já tinha feito trabalhos marcantes para os centros históricos de Guimarães e do Porto.
Entrevistado esta semana pela Rádio, o arquitecto nortenho considera, à distância de uma década, que a Câmara da Guarda tomou em relação à requalificação da 'sala de visitas' da cidade uma atitude de passividade, de quem não sabia muito bem o que fazer com o espaço e tomava decisões por sugestão, com pouca convicção e nenhuma vontade de as explicar.
«O que faltou foi uma discussão mais aberta e mais profunda depois da execução» da obra, diz Camilo Cortesão. Quando assim é, «quem ganha é o preconceito».
O projectista afirma que não existiu uma linha orientadora e que a promotora da obra (a autarquia através da sociedade Polis), decidia em função do desejo de agradar a todos. É má política, garante o arquitecto: «Fazer obras contra a vontade de toda a gente é fazê-las em perda; mas fazê-las a favor da vontade de toda a gente é fazer uma porcaria. É preciso saber gerir entre estas vontades».
«Faz parte da obrigação quer dos projectistas dos promotores serem o mais abertos possível e promoverem o debate, ainda que corram o risco de que o resultado seja que a obra não se faça», diz mesmo. Porque numa intervenção daquela dimensão «ou se conquista as pessoas para a mudança e nessa altura é possível fazer alguma coisa de novo ou não se conquista e mais vale não fazer».
Camilo Cortesão faz assim um balanço extremamente duro do resultado da intervenção que assinou, numa entrevista que abre na Rádio uma semana informativa na qual queremos levantar a discussão sobre o futuro da Praça Velha e da Rua do Comércio.
Este vai ser o tema do Fórum Altitude, na quarta-feira, dia 19, a partir das 11h00.
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