A comissão política distrital do PSD aprovou hoje o nome do actual presidente da Câmara da Guarda, Carlos Monteiro, para ser o candidato do partido às próximas eleições autárquicas.
A escolha começou por ser feita por unanimidade no órgão mais restrito (a comissão permanente) e foi, depois, confirmada na comissão política alargada, onde têm assento os presidentes das comissões políticas de secção. Aqui, Carlos Monteiro teve o voto contra do líder da concelhia da Guarda, Sérgio Costa, e as abstenções de dirigentes de outros concelhos representados.
Porém, a hipótese de Sérgio Costa ainda ser o escolhido não está completamente afastada. O mesmo órgão tomou conhecimento que havia já sido remetida pela concelhia, directamente à direcção nacional, a indicação do antigo vice-presidente do município. E considerou que ambas as propostas (a de Carlos Monteiro, feita pela distrital; e a Sérgio Costa, pela concelhia) poderão ser apreciadas pela comissão política nacional, até por se tratar da escolha para a Câmara de uma capital de distrito. O “desempate” será agora feito em Lisboa.
A estrutura presidida por Sérgio Costa tinha proposto, em Dezembro, que o actual vereador sem pelouros fosse o cabeça de lista do partido à Câmara. Disso mesmo deu conta numa extensa carta então remetida ao presidente da distrital social-democrata, Carlos Condesso, também chefe de gabinete do presidente da Câmara.
Na missiva, subscrita pelos membros da concelhia e enviada também ao secretário-geral do partido, José Silvano, era referido que «o nome do candidato do PSD que tem a capacidade de continuar a garantir a
senda de vitória iniciada em 2013, conhecedor de todo o Concelho e das suas gentes, das suas necessidades, das suas tradições, dos seus anseios, do caminho a trilhar para o desenvolvimento futuro, mantendo a Câmara Municipal da Guarda governada pelo PSD, é o Eng. Sérgio Fernando da Silva Costa».
Mas a carta é acompanhada por um longo rol «de vários episódios e factos bem elucidativos» das razões pelas quais a organização local do PSD entende que o actual presidente da Câmara não poderá ser o escolhido.
Os dirigentes social-democratas acusam Carlos Monteiro de «desrespeito» perante «os restantes Membros do Executivo, os dirigentes superiores do município e os funcionários». Garantem mesmo que o actual vice-presidente, Vítor Amaral, «chegou a colocar a sua demissão em cima da mesa numa reunião de coordenação do executivo PSD, por discordar da nomeação para o cargo de diretor da candidatura da Guarda a Capital Europa da Cultura, efetuada pelo Sr. Presidente sem o seu conhecimento».
Todo o documento segue neste tom acusatório, chegando ao ponto de associar unicamente Carlos Monteiro aos processos judiciais que envolvem a autarquia: «Em Junho e Julho de 2019, todos fomos surpreendidos com reportagens televisivas sobre processos de investigação no Município da Guarda, manifestando o nosso receio em que a sua discussão caia diretamente em cima da campanha eleitoral». Num caso em concreto, a concelhia do PSD assegura que «todos os concursos com a Transdev foram agilizados pelo Dr. Carlos Chaves Monteiro», revelando que o antecessor, Álvaro Amaro, tinha «manifestando o seu desagrado pelo facto de o seu bom nome não ter sido salvaguardado aquando do lançamento do concurso público para a concessão dos transportes públicos urbanos».
Também são referidas «as atitudes de conversas em tons de berros com todos os vereadores», lembrando os signatários que «foram públicas as várias e constantes ameaças» que Carlos Monteiro (a quem se referem como «presidente em exercício») «foi fazendo no sentido de retirar os pelouros ao vereador e vice-presidente, Sérgio Costa».
A concelhia do PSD recorda que a decisão foi consumada há quase um ano e estranha que «apesar de o Dr. Carlos Chaves Monteiro ter retirado os pelouros ao Eng. Sérgio Costa por se ter candidatado à Comissão Política de Secção do PSD, manteve no cargo de Chefe de Gabinete o Sr. Carlos Condesso que se candidatou à Comissão Política Distrital, o que revela bem as intenções por comparação de atitudes e de decisões».
A carta refere ainda que «têm sido públicas as divergências graves provocadas pelo Dr. Carlos Chaves Monteiro para com a Dra. Cidália Valbom». E vai ao ponto de trazer a público questões como esta: «aquando da realização da Fogueira de Natal de 25 de Dezembro de 2019, após a publicação de uma simples fotografia da Dra. Cidália Valbom e dos restantes membros da Mesa da Assembleia Municipal no sítio do facebook do Município da Guarda, o Dr. Carlos Chaves Monteiro deu ordem para que a mesma fosse retirada».
Os membros da comissão política concelhia denunciam ainda que «vive-se dentro do Município um sentimento de desilusão e revolta por parte da maior parte dos seus funcionários». E acusam o presidente da Câmara de «convidar várias pessoas para o lugar de Vereador e para o seu futuro Gabinete, bem como ter andado a fazer convites a elementos contrários a alguns dos atuais presidentes de junta do PSD, para que se pudessem candidatar contra eles».
Presidentes de junta que terão, segundo o documento, razões de queixa como esta: «no passado dia 27 de Novembro, dia em que se comemora o feriado Municipal e o Dia da Cidade, nenhuma das 42 Juntas de Freguesia rurais foram convidadas, nem para o hastear da bandeira ao ar livre, nem para as restantes comemorações ou inaugurações, ou até mesmo para o concerto habitual, apesar da sala do TMG estar cheia com outros convidados, o que demonstra o cada vez maior afastamento do Dr. Carlos Chaves Monteiro em relação às Juntas de Freguesia».
Mas há mais: o PSD da Guarda acusa o presidente da Câmara de tomar posições públicas que são sumariamente vistas como elogios ao governo socialista. Um exemplo: «Apesar de a Comissão Política Distrital e a Comissão Política Concelhia do PSD terem emitido um comunicado sobre o falhanço claro da Cimeira lbérica 2020 realizada há cerca de dois meses na Guarda, no que diz respeito à apresentação de medidas concretas para a Coesão Territorial e a verdadeira Cooperação Transfronteiriça, o Dr. Carlos Chaves Monteiro veio a público contrariar as declarações partidárias enaltecendo e elogiando a Cimeira lbérica como tendo sido muito importante para a Guarda, num claro apoio ao Governo do Partido Socialista». Ou seja: a realização da Cimeira entre António Costa e Pedro Sánchez não devia ter sido elogiada pelo presidente da Câmara da cidade anfitriã, segundo os dirigentes locais do PSD.
Também no que se refere à pandemia de covid-19, Carlos Monteiro é acusado pelos pares social-democratas do concelho de não saber fazer a gestão da mensagem política: «Todos denotamos que a situação pandémica em que o país vive é de uma gravidade imensa. O Dr. Carlos Chaves Monteiro tem vindo a prestar declarações públicas, referindo que a situação está controlada, evidenciando-se o contínuo aumento de dezenas de casos por dia Concelho da Guarda. Não percebemos o motivo desta defesa incessante de quem governa neste momento o país».
São estes alguns dos muitos argumentos que a carta, que tem Sérgio Costa como primeiro subscritor (embora ressalvado que se absteve na votação do próprio nome para candidato do PSD à Câmara), apresenta para concluir que «o tempo mostrou de uma forma muito clara que a gestão atual não sabe governar, não sabe gerir, não sabe dialogar, enfim não está talhado para esta tarefa» e, uma vez que «este caminho só leva a que não tenha condições para liderar um projeto ganhador em 2021», a concelhia social-democrata entende que «tenhamos de encontrar outra solução».
Argumentos que não terão bastado para convencer a comissão política distrital a tomar outra posição que não o apoio à recandidatura do actual presidente da Câmara, Carlos Chaves Monteiro.
Porém, a direcção nacional do partido terá presente, igualmente, a proposta do nome de Sérgio Costa, que lhe foi enviada pela própria concelhia da capital do distrito.
Esta sexta-feira também já foram aprovados os candidatos do PSD às câmaras de dois concelhos: Nuno Soares em Manteigas e João Carvalho em Trancoso.