Estava tudo a decorrer dentro de uma certa tranquilidade, na sessão desta terça-feira da Assembleia Municipal da Guarda (a segunda após o desconfinamento, também realizada no grande auditório do Teatro Municipal da Guarda), até que o tema do Centro de Exposições Transfronteiriço foi puxado.
Acabou por ser o presidente de uma junta de freguesia rural (Santana d’Azinha), eleito pelo PSD, a fazer o papel e questionar o presidente da Câmara. Carlos Monteiro responderia que «não é assunto», pois ao órgão deliberativo só são levados assuntos previamente discutidos e votados em reunião do executivo. E embora o ponto tenha chegado a estar agendado para o dia 22, acabaria por ser retirado da ordem de trabalhos. Por isso, «não existe».
Mas a presidente da Assembleia Municipal não quis deixar morrer o assunto. E numa interpelação inédita ao presidente da Câmara (neste ou em quaisquer mandatos nas últimas décadas), pediu explicações sobre a natureza da operação que a Câmara estaria a negociar com a sociedade proprietária da antiga fábrica têxtil do Rio Diz e com um fundo financeiro interessado na construção do pavilhão multiusos. Um «ponto de situação», solicitou Cidália Valbom, concedendo para isso o tempo extra de que Carlos Monteiro necessitasse.
Foi a partir daí que a discussão aqueceu, com intervenções de praticamente todas as bancadas. A troca de argumentos durou várias horas e preencheu boa parte da sessão.
Mais uma vez, o coordenador da bancada do PSD, Tiago Gonçalves, saiu em defesa do executivo. E João Prata, presidente da junta de freguesia da Guarda, foi mais longe na tentativa de pacificação, assegurando que o partido «está coeso» em torno das lideranças doa órgãos autárquicos, começando pela Câmara, «em cujo presidente nos revemos totalmente e queremos, naturalmente, que prossiga o seu mandato e que possa ser, obviamente, novamente presidente da Câmara Municipal da Guarda a partir do próximo ano».
Ao vereador Sérgio Costa, que acaba de ser eleito presidente da concelhia da Guarda do PSD (com o apoio público de João Prata), o autarca da freguesia pediu que «possa concorrer para uma melhor governação, juntamente com toda a equipa da qual faz parte».
Assim, um comentário – à primeira vista sem importância – da presidente da Assembleia perante um ruído de estática no sistema de som da sala («eu às vezes faço um bocado de trovada, mas agora não fui eu»), acabou por ser uma ironia que antecipou a precipitação que se avizinhava.
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